sexta-feira, 25 de abril de 2014

Ivanildo: o cortador de cana campeão na colheita e no campo em Sirinhaém


Ivanildo: o cortador de cana campeão na colheita e no campo em Sirinhaém 

 Leonardo Vasconcelos
Especial para o NE10

 

 

De longe se vê no alto do canavial as palhas voando. Rapidamente as canas vão caindo aos montes. Um longo rastro vai se formando no chão. A impressão que se tem é que a colheita está sendo feito por uma máquina. E é como se fosse. Ao se aproximar se percebe que o árduo e ágil trabalho é feito com apenas um facão que ao ser impulsionado de um lado pro outro vai partindo tudo pela frente. Quem o manuseia não é apenas mais um cortador de cana, é “o” cortador campeão da Usina Trapiche, que fica em Sirinhaém, Zona da Mata Pernambucana.
O nome de batismo é Ivanildo Maurício de Lima, mas nem adianta chamar assim. Ninguém o conhece dessa forma, mas basta usar o apelido que rapidamente sabem quem estamos procurando. “Oh ‘Cara Véia’, vem cá, estão te chamando aqui”, grita o colega. Na mesma hora, ele se vira e vem. Ao se aproximar é notório que as feições de fato parecem mais velhas do que a idade de 34 anos, principalmente devido ao exaustivo trabalho ao sol. No entanto, o fôlego é de fazer inveja a muitos adolescentes. Com ele é que o trabalhador consegue chegar à marca quase inacreditável de cortar em média 13,4 toneladas de cana por dia. Para se ter uma ideia é quase como derrubar um canavial do tamanho de um campo de futebol.
“O segredo? O segredo é esforço, meu filho. Primeiro peço força a Deus. Depois batalho todos os dias aqui no meio da cana”, disse, enxugando o suor do rosto. Essa batalha o fez ganhar três vezes o título de campeão de corte da usina. Como prêmio enche o peito para dizer que já recebeu um terreno, uma televisão e três geladeiras. Contudo, apesar do orgulho pela profissão, Ivanildo sabe que o ofício não é visto com o mesmo sentimento fora da usina. “Olham como se a gente fosse uns coitados, quase um esmoléo. Basta sair daqui pra cortador não ter valor”, reclama lembrando da sensação ao andar nas ruas da cidade.
No entanto, assim como faz com a cana, Ivanildo corta o preconceito direto no pé. E para isso não usa o facão e, sim, a chuteira. É por meio do futebol que mostra o seu valor. “Esta é a melhor resposta, dentro de campo. A melhor parte do dia pra mim é quando eu jogo bola. Tudo fica alegre”, resume. E a paixão pelo esporte é tanta que ele, torcedor roxo do Palmeiras, criou a versão local do time em que é ao mesmo tempo fundador, presidente, capitão e atacante. “Desde os 15 anos torço pra o Porco aí decidi fazer uma homenagem e formei o Palmeiras do Oteiro”, fala, orgulhoso, fazendo uma referência ao nome do engenho em que vive.
Durante a entressafra, todos os times dos 32 engenhos da usina se enfrentam na Copa 1º de Maio. Não é coincidência o nome fazer alusão à data do Dia do Trabalho. Disso eles entendem bastante. Mas enquanto rola a competição, o único trabalho que eles fazem questão de ter é de fazer gols, como conta Gil Cazé, um dos organizadores. “Nós sabemos o quanto a rotina de cada um é puxada. Então essa Copa serve justamente como um agradecimento ao esforço desses homens e também um reconhecimento ao talento deles. Você pode até achar que não, mas cortador sabe jogar bola, sim, e muito bem. Venha ver um jogo pra tirar a prova”, desafiou. Nós fomos.
Trabalho e divertimento
O jogo: Palmeiras (aquele mesmo de Cara Véia) contra o Vitória. Quem traz os times ao campo é Tieta. Esse é o apelido carinhoso dado ao ônibus que transporta os cortadores. No caminho, o pagode é cantado em coro no ritmo das batucadas nos assentos e palmas de mão. A música só para quando chega ao destino: um campinho aberto bem ao lado de um grande canavial. Eles deixam a Tieta e vão direto pro aquecimento. Menos de cinco minutos depois já estão jogando. É preciso reconhecer. Não é um futebol vistoso, mas bem visto pela raça e esforço empregados. Quem marca aqui garante: os gols têm sabor de mel de engenho.
No corre-corre de um lado pro outro lá está Ivanildo. Quem olha é até difícil acreditar que é o mesmo que poucas horas atrás derrubava toneladas de cana. “Juro que não me sinto cansado, pra jogar bola não. E vocês viram que eu não fico parado esperando a bola não, marco carreira no campo inteiro. Tudo pra voltar pra casa com pelo menos um golzinho”, brinca com a alegria de quem sabe que a cana só depois de triturada é que dá o doce.

A cana em Pernambuco

Cortadores de cana na Usina Trapiche
No Brasil, o plantio da cana-de-açúcar (matéria prima das usinas) se iniciou em São Vicente, no ano de 1522, trazida da Ilha da Madeira, por Martim Afonso de Souza. Foi em Pernambuco, porém, que ela floresceu, encontrando condições ideais para seu desenvolvimento nas terras úmidas em massapê. Em 1553, Duarte Coelho Pereira trouxe também da Ilha da Madeira, a chamada cana crioula, que durante três séculos, foi a variedade dominante cultivada em Pernambuco. Há indicações que já havia, anteriormente, cultura de cana-de-açúcar nas terras de Itamaracá.
No início do século 19, a cana crioula foi substituída pela cana caiana, quando os portugueses trouxeram essa variedade da Guiana Francesa e a introduziram aqui. Só depois foram sendo introduzidas variedades híbridas, oriundas das Antilhas, da Índia e da Indonésia.

Usinas no Estado

Usinas no Estado
A primeira usina implantada em Pernambuco foi a de São Francisco da Várzea, cuja primeira moagem aconteceu em 1875. Pernambuco já chegou a ter mais de cem usinas. Atualmente, no entanto, existem apenas cerca de 38, algumas, inclusive, encontram-se paralisadas ou desativadas.

Economia da cana
» 80 mil trabalhadores atuam no corte de cana em Pernambuco
» 50 cidades fazem da cana-de-açúcar a principal atividade econômica
» 13.153 toneladas é o números da safra 12\13
» 2,2 bilhões de reais são movimentados pelo ramo por ano no estado




Fonte: Fundação Joaquim Nabuco
"A melhor parte do dia pra mim é quando eu jogo bola. Tudo fica alegre"
 
http://especiais.ne10.uol.com.br/1-bola-5-sonhos/sirinhaem.php
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